Faz tempo que a internet não é só um poço pra extravasar carência e jogar conversa fora, pelo menos pra mim. Parei de desdenhar dela e comecei a passar mais tempo descobrindo o que ela tinha de legal. Fiz o mesmo com o facebook e comecei a mudar a forma com que eu lidava com ele e finalmente, o transformei num lugar onde tenho mais informações e menos chatices egoicas e discussões inapropriadas. O ponto é que esse ano, especificamente, a world wide web me proporcionou coisas realmente maravilhosas, como Golden Swallow em Blu-Ray (que eu verdadeiramente me emociono quando assisto), o ano do pensamento mágico da Joan Didion, pude ler um conto sem começo e nem fim que traduziu todas as minhas agonias do Tchekhov, pude ler minha mente em vermelho amargo, conheci por total acaso a Francesca Woodman e Manuel Álvarez Bravo e eles estão na minha lista de fotógrafos favoritos.
Claro que antes eu conhecia coisas por conta da internet, mas isso se solidificou consideravelmente esse ano e toda essa ladainha foi só pra dizer que tem um site muito legal dedicado à Clarice Lispector, minha escritora brasileira favorita até então. Ver um site que nem esse me enche os olhos por 50 mil motivos, mas o principal é reafirmar o fato de eu não estar sozinha nesse mundo cheio de gente chata.
Essas pequenas coisas também fazem parte do que me mantêm viva. E feliz.
O site:
http://claricelispectorims.com.br
guilhotina voadora
sexta-feira, 11 de julho de 2014
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Esboços e avulsidades sobre J. G.
I. Mesmo com todo o
falatório a respeito de The Immigrant ter sido o mais diferente
filme de James Gray, o próprio parece ter-nos preparado para ele
desde sua primeira película.
O diretor sempre
retratou a realidade dos estrangeiros na América, desde Little
Odessa (1994) há a desmistificação do sonho americano. O
deslocamento é a peça-chave da atuação de todas as personagens
principais e de suas respectivas famílias, muitas vezes, mostrando a
figura feminina como um pilar que une a todos. E esse deslocamento
não é presente só na atuação, mas em toda a construção do
filme, principalmente em sua iluminação.
A luz nos filmes de
James Gray sempre pende para um tom esverdeado, contrastando com tons
de amarelo e azul acinzentado, como a triste cena de sexo sem
intimidade no gélido terraço em Two Lovers (2008) que possui tons
frios e duros de azul. Em sua maioria, a preponderância ainda é da
meia-luz esverdeada, existe um grande cuidado com a iluminação e em
entrevista a Luís Miguel Oliveira, Gray admite seu cuidado exaustivo
com a luz e a cor de cada cena. E seu desejo de que isso fosse tomado
pelo inconsciente, que o espectador apenas sentisse a cor e não
enxergasse ela de fato.
Two Lovers, 2008 |
Em The Immigrant, a
luz continua a mesma mas é diferente, sim, é difícil mesmo de
explicar, mas é como se ao invés de principalmente verde,
tivéssemos uma predominância maior do amarelo, em tons obscuros,
mesmo em tomadas externas. Procurando algumas coisas sobre teoria das
cores, encontrei uma definição que muito me agradou a respeito de
tons amarelos: Simboliza o ouro e com este, a força selvagem e a
arrogância. E sob certos aspectos psicológicos, a cor da raiva, do
atrevimento, dos impulsos e da falsidade. (…) Quando misturado com
preto adquire uma tonalidade escura, verdosa, bastante repulsiva.
Torna-se então a cor de menor popularidade, constituindo-se como
legítima representante do ciúme, doença, traição, indecência e desprezo. Personifica também, neste tom, o crime, a perversidade. Misturado com branco, lembra pavor e a covardia. Em séculos
passados, as casas de criminosos, traidores e ladrões foram pintadas
de amarelo.
Onde ela parece deslocada pela vulgaridade, a predominância do amarelo é clara.
The Immigrant, 2013 |
II. James Gray discorda que seus filmes sejam lentos. E eu também.
III. Em Two Lovers, o
protagonista Leonard, também interpretado por Phoenix, tem uma
paixão platoniana por sua vizinha, Michelle. E a ronda de forma
amistosa e por vezes maníaca, sempre disponível e sempre por perto.
Da mesma forma que Bruno ronda Ewa, a mesma paixão de um homem com
sérios distúrbios emocionais por uma mulher profundamente imersa em
seus próprios problemas emocionais, misteriosa e com um enorme peso,
uma enorme tristeza.
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