sexta-feira, 11 de julho de 2014

Alegrias cibernéticas

Faz tempo que a internet não é um poço pra extravasar carência e jogar conversa fora, pelo menos pra mim. Parei de desdenhar dela e comecei a passar mais tempo descobrindo o que ela tinha de legal. Fiz o mesmo com o facebook e comecei a mudar a forma com que eu lidava com ele e finalmente, o transformei num lugar onde tenho mais informações e menos chatices egoicas e discussões inapropriadas. O ponto é que esse ano, especificamente, a world wide web me proporcionou coisas realmente maravilhosas, como Golden Swallow em Blu-Ray (que eu verdadeiramente me emociono quando assisto), o ano do pensamento mágico da Joan Didion, pude ler um conto sem começo e nem fim que traduziu todas as minhas agonias do Tchekhov, pude ler minha mente em vermelho amargo, conheci por total acaso a Francesca Woodman e Manuel Álvarez Bravo e eles estão na minha lista de fotógrafos favoritos.

Claro que antes eu conhecia coisas por conta da internet, mas isso se solidificou consideravelmente esse ano e toda essa ladainha foi só pra dizer que tem um site muito legal dedicado à Clarice Lispector, minha escritora brasileira favorita até então. Ver um site que nem esse me enche os olhos por 50 mil motivos, mas o principal é reafirmar o fato de eu não estar sozinha nesse mundo cheio de gente chata.

Essas pequenas coisas também fazem parte do que me mantêm viva. E feliz.


O site:
http://claricelispectorims.com.br

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Esboços e avulsidades sobre J. G.

I. Mesmo com todo o falatório a respeito de The Immigrant ter sido o mais diferente filme de James Gray, o próprio parece ter-nos preparado para ele desde sua primeira película.
O diretor sempre retratou a realidade dos estrangeiros na América, desde Little Odessa (1994) há a desmistificação do sonho americano. O deslocamento é a peça-chave da atuação de todas as personagens principais e de suas respectivas famílias, muitas vezes, mostrando a figura feminina como um pilar que une a todos. E esse deslocamento não é presente só na atuação, mas em toda a construção do filme, principalmente em sua iluminação.

A luz nos filmes de James Gray sempre pende para um tom esverdeado, contrastando com tons de amarelo e azul acinzentado, como a triste cena de sexo sem intimidade no gélido terraço em Two Lovers (2008) que possui tons frios e duros de azul. Em sua maioria, a preponderância ainda é da meia-luz esverdeada, existe um grande cuidado com a iluminação e em entrevista a Luís Miguel Oliveira, Gray admite seu cuidado exaustivo com a luz e a cor de cada cena. E seu desejo de que isso fosse tomado pelo inconsciente, que o espectador apenas sentisse a cor e não enxergasse ela de fato.

Two Lovers, 2008



Em The Immigrant, a luz continua a mesma mas é diferente, sim, é difícil mesmo de explicar, mas é como se ao invés de principalmente verde, tivéssemos uma predominância maior do amarelo, em tons obscuros, mesmo em tomadas externas. Procurando algumas coisas sobre teoria das cores, encontrei uma definição que muito me agradou a respeito de tons amarelos: Simboliza o ouro e com este, a força selvagem e a arrogância. E sob certos aspectos psicológicos, a cor da raiva, do atrevimento, dos impulsos e da falsidade. (…) Quando misturado com preto adquire uma tonalidade escura, verdosa, bastante repulsiva. Torna-se então a cor de menor popularidade, constituindo-se como legítima representante do ciúme, doença, traição, indecência e desprezo. Personifica também, neste tom, o crime, a perversidade. Misturado com branco, lembra pavor e a covardia. Em séculos passados, as casas de criminosos, traidores e ladrões foram pintadas de amarelo. 

Onde ela parece deslocada pela vulgaridade, a predominância do amarelo é clara.

The Immigrant, 2013


II. James Gray discorda que seus filmes sejam lentos. E eu também. 

III. Em Two Lovers, o protagonista Leonard, também interpretado por Phoenix, tem uma paixão platoniana por sua vizinha, Michelle. E a ronda de forma amistosa e por vezes maníaca, sempre disponível e sempre por perto. Da mesma forma que Bruno ronda Ewa, a mesma paixão de um homem com sérios distúrbios emocionais por uma mulher profundamente imersa em seus próprios problemas emocionais, misteriosa e com um enorme peso, uma enorme tristeza.